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Depois da fundação das primeiras estâncias Capão do Leão deixou de ser um mero local de passagem, quando algumas famílias vindas de territórios invadidos pela Coroa Espanhola vieram se refugiar no atual território leonense. Nessas terras que foram parte de Rio Grande e também de Pelotas[1] cresceu o patrono da imprensa brasileira, Hipólito José da Costa[2]. Filho do alferes real Félix da Costa e nascido na Colônia de Sacramento[3] em 1774[4], ele veio com a família para a região devido à invasão da cidadela portuguesa pelos espanhóis em 1777. Hipólito e sua família e vieram para Capão do Leão entre 1778 e 1779[5], apesar de só terem recebido a posse oficial das terras em 1794[6]. Nesse período, em 1784, seu tio Pedro Pereira de Mesquita, o Padre Doutor, recomendou a criação de uma nova freguesia no local devido ao fato de que lá já viviam cerca de 150 famílias - solicitação que só se concretizou em 1810 após insistentes pedidos dos moradores da então São Francisco de Paula, atual Pelotas[7].
Em 1792, aos 17 anos de idade, Hipólito se matriculou nas faculdades de Direito e de Filosofia da Universidade de Coimbra, em Portugal[8], onde se formou em 1797[9]. No ano seguinte[10] foi enviado para a América onde viu pessoalmente a democracia já em funcionamento e onde se filiou à maçonaria[11]. O jovem Hipólito logo se distanciou de sua família religiosa[12] e passou a se dedicar aos movimentos maçônicos que na época lutavam pela independência de países como o Brasil e os Estados Unidos, entre outros[13].
Em 1800 foi nomeado Diretor da Imprensa Régia[14] e dois anos depois viajou para Londres em missão oficial com o objetivo de adquirir livros para a Real Biblioteca e máquinas para a Imprensa Régia. Porém hoje sabe-se que seus motivos também eram o de obter proteção com a maçonaria inglesa para as atividades das Lojas Maçônicas Portuguesas, que na época eram proibidas no território de Portugal[15]. Hipólito acabou sendo preso pelo Santo Ofício entre 1801 e 1803 acusado de ser maçom[16] e livre-pensador[17] - o que depois ele mesmo declarou não ser crime segundo as leis portuguesas, mas uma proibição da própria igreja[18]. Mas Hipólito conseguiu fugir sob a proteção de seus irmãos maçons[19] em 1805, quando foi exilado em Londres sob a proteção do Grão-Mestre da maçonaria inglesa, o príncipe Augusto Frederico do Reino Unido, também conhecido como Duque de Sussex.
De acordo com Isabel Lustosa em sua reportagem “A imprensa brasileira longe da pátria”, publicada pela revista História Viva em janeiro de 2008, somente com a chegada de D. João VI em maio de 1808 é que foram permitidas as letras impressas no Brasil e uma gráfica trazida pelo próprio monarca passou a publicar em setembro do mesmo ano o semi-oficial “Gazeta do Rio de Janeiro”. Também segundo Isabel, o primeiro jornal a circular no país foi na verdade o “Correio Braziliense”, produzido por Hipólito José da Costa na Inglaterra e lançado em 1º de junho de 1808, quando o jornalismo independente ainda era proibido por aqui. Através da publicação ele defendeu, entre outras idéias, a Independência do Brasil.
A publicação só parou de ser impressa com o grito do Ipiranga[20], ocorrido em 1822[21]. Depois disso Hipólito foi nomeado Cônsul do Brasil na Inglaterra, onde faleceu no dia 11 de setembro de 1823[22]. O patrono da imprensa brasileira[23] deixou a esposa Mary Aun Troughton, com quem se casou em 1817, e três filhos. Depois de sua morte foi homenageado ao emprestar seu nome a uma das cadeiras da Academia Brasileira de Letras[24]. Mas apesar da biblioteca pública de Capão do Leão ter recebido também essa mesma denominação[25], a história de Hipólito José da Costa e seu papel no processo de independência do nosso país são desconhecidos para muitos moradores do município.
A estância Santa Tecla, logo no início da avenida Narciso Silva, foi o local onde viveu esse homem tão importante para a instauração da democracia em nosso país[26]. De acordo com a escritora pelotense Zênia de Leon e com a proprietária das terras onde Hipólito José da Costa passou sua infância e adolescência, Berenice Vilela, a grutinha que cobre a antiga cacimba do Padre Doutor e a pia usada por ele para batizar os primeiros habitantes da localidade continuam lá e permanecem preservadas[27], porém o local é uma propriedade particular e não está aberto para a visitação[28].
REFERÊNCIAS
[1] GUTIERREZ, 1993.
[2] DALL´AGNOL, 1993. GUTIERREZ, 1993. OSÓRIO, F., 1962. SILVA, A., 2006b. SILVA, A., 2006g.
[3] GUTIERREZ, 1993. LUSTOSA, 2005.
[4] LUSTOSA, 2005.
[5] SILVA, A., 2006g.
[6] GUTIERREZ, 1993.
[7] OSÓRIO, F., 1962.
[8] GUTIERREZ, 1993. LUSTOSA, 2005.
[9] SILVA, A., 2006g.
[10] LUSTOSA, 2005.
[11] GUTIERREZ, 1993. LUSTOSA, 2005.
[12] DIAS, J., 2008a.
[13] GUTIERREZ, 1993.
[14] DIAS, J., 2008a.
[15] LUSTOSA, 2005.
[16] DIAS, J., 2008a. GUTIERREZ, 1993.
[17] DIAS, J., 2008a.
[18] LUSTOSA, 2005.
[19] GUTIERREZ, 1993. LUSTOSA, 2005.
[20] LUSTOSA, 2005.
[21] CANCIAN, 2009. GUTIERREZ, 1993.
[22] DIAS, J., 2008a.
[23] GUTIERREZ, 1993. SILVA, A., 2006g.
[24] DIAS, J., 2008a.
[25] REIS, 2009. SILVA, A., 2006f.
[26] BRAGANÇA, 1807.
[27] VILLELLA, 2008. DE LEÓN, 2009.
[28] DE LEÓN, 2009.
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